Meio ambiente equilibrado, qualidade de vida, menos poluentes no ar, água e solo. Essa tendência, cada vez mais forte nos últimos anos, pode esconder surpresas desagradáveis. Nem tudo que é bom necessariamente é verde, eco ou bio.
O alerta vem de duas pesquisas recém-divulgadas, uma no Brasil outra em Cingapura. Em ambos os casos, os cientistas se debruçaram sobre duas das mais promissoras tecnologias de baixo impacto ambiental: a dos biocombustíveis e a dos bioplásticos.
A primeira investigação foi feita no Instituto de Biociência da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro (SP). Lá, a pesquisadora Daniela Moraes Leme constatou que o biodiesel derivado de soja pode ser tão ou mais danoso à natureza do que os combustíveis fósseis.
Aposta brasileira
O biodiesel é uma das apostas do governo brasileiro para responder à demanda mundial por combustíveis sustentáveis. Feitos com matérias-primas renováveis, eles lançam menos poluentes na atmosfera que os derivados de petróleo. "O problema é que a análise da qualidade desse produto só leva em conta o nível de emissão de poluentes no ar e não verifica se há substâncias tóxicas para o solo e a água", afirma Daniela. E foi isso que ela fez: responder a pergunta sobre o que aconteceria caso houvesse um vazamento de biodiesel. Os resultados demonstraram que o diesel comum é tóxico para as células, mas a surpresa da
estudiosa foi o desempenho do biocombustível de soja.
Efeito Mutagênico
No solo, tanto o biodiesel puro como aquele misturado com o diesel de petróleo apresentaram efeito mutagênico, ou seja, capaz de provocar alteração no DNA das células. O biodiesel puro (B100) ainda manteve essa característica quando aplicado na água. Para chegar a essa polêmica conclusão, Daniela utilizou três experimentos.
O primeiro foi feito com cebolas, o segundo com bactérias e o último com células animais. O efeito mutagênico se manifestou em todos os testes. "Os resultados se complementam e indicam que, de fato, o biodiesel é capaz de gerar mutações. Agora, precisamos saber que parte do combustível provoca esse feito e determinar se é possível neutralizá-la", explica Daniela.
Suspeitos
Em princípio, a equipe apostava que hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) fossem as ubstâncias que geravam as alterações observadas. Os cientistas já sabiam que eles podiam desencadear mutações genéticas e estavam associados ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer nos humanos e em outros animais.
Porém, as análises químicas descartaramessa hipótese. Noestágioatual dotrabalho, os especialistas investigam os flavonoides, componentes comuns em diversas espécies vegetais,nessecaso,apenasaqueles presentes no óleo de soja usadoparacriarobiodiesel. "A quantidade de flavonoides é enorme. Embora já tenhamos conseguido restringir o número de 'suspeitos', será como procurar uma agulha no palheiro", afirma Maria Aparecida Mary Rosa, orientadora do estudo. Ela enfatizaque, mesmo identificando a substância causadora das alterações genéticas, pode não ser possível retirá-la do biocombustível.
Fonte: Jornal A Tribuna
Nenhum comentário:
Postar um comentário