Autor: Flávia SaadMariana Aragão e Dayana Santos eram apenas bebês quando foi realizada a Eco-92 no Rio de Janeiro. A conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) que discutiu os rumos do meio ambiente é reconhecida como um divisor de águas na luta pelo desenvolvimento sustentável.As jovens de 20 e 19 anos, respectivamente, cresceram em um mundo em que a preocupação com a biodiversidade e as mudanças climáticas já estavam na pauta dos veículos de comunicação. Engajadas com a questão ambiental desde a infância, elas perceberam que já não era suficiente cada um fazer a sua parte. E começaram a idealizar há pouco mais de um ano o que hoje é o Biotav.
O nome remete às iniciais de Terra, Água e Verde e a ideia surgiu a partir da vontade de sensibilizar as crianças sobre a importância de se cuidar da natureza. "Nossas escolhas de hoje determinam o futuro", diz o slogan da entidade.
As meninas se conhecem há 9 anos. Mariana é estudante do terceiro ano de Jornalismo em São Paulo e desde a infância participa de atividades relacionadas à cidadania. Fez parte do Projeto Fala Aí, e aos 16 anos, integrou o Conselho de Leitores de A Tribuna. Já Daiana cursa Comércio Exterior em Santos, mas sempre teve paixão pelos animais e pela Biologia.
Anatália Carolina Pereira Aragão dos Santos, mãe de Mariana, adora contar que a filha fundou sua primeira ONG aos 8 anos. "Chamava Falando Pela Natureza. Ela começou denunciando o corte de uma árvo- re na nossa rua".
O outro membro da ONG é Rodrigo Bispo, que reside na Capital. Amigo de Mariana, ele trabalhava com ela em uma lanhouse paulistana. Discussões sobre a destinação do lixo tecnológico deram origem ao Biotav.
FAZER A DIFERENÇA
A Unidade Municipal de Ensino (UME) Deputado Emílio Justo, na Vila Progresso, em Santos, foi a primeira a abrir as portas para a equipe. Todas as sextas-feiras, as meninas visitam a escola para realizar ações entre os alunos da 2ª à 8ª série.
Cada semana tem um tema diferente. Depois de uma explicação rápida nas salas de aula, os alunos vão para o pátio fazer atividades didáticas sobre o assunto, como confecção de cartazes ou produção de brinquedos com sucata.
O diretor Odail Saletti Lobo é só elogios para as meninas. "Tenho 35 anos de magistério e sempre defendi que a comunidade deve se envolver na escola pública. A parte mais importante é que elas representam um ótimo exemplo para as crianças para a vida inteira. São jovens de iniciativa e fazem um trabalho fantástico".
RESULTADOS
Mariana e Dayana levam a sério o fato de serem modelos para as crianças que ensinam. Usam bolsas retornáveis para levar os materiais à escola, adotam o transporte coletivo e preferem produtos de empresas de ideologia sustentável.
Os resultados já começaram a aparecer, menos de seis meses após o início das atividades. Lobo percebeu que a escola está mais limpa e que o projeto motivou os alunos. "Eles participam mesmo e levam o que aprenderem aqui para casa, para conscientizar os pais".
Em maio, por meio de uma parceriacomoGrupoPaco,empresa de reciclagem de São Vicente, o Biotav instalou as lixeiras para a coleta seletiva na unidade de ensino. Depois de separar o que pode ser usado em futurasatividadesetransformado em arte ou brinquedos, o resto é reciclado pela empresa. Projeto deve beneficiar outras escolas Com pouco mais de um ano de existência, o Biotav ainda engatinha e precisa de voluntários para ampliar suas ações. Há planos de levar o projeto para outras escolas públicas e particulares, mas isso só deve acontecer quando o quadro de associados crescer.
Parcerias fixas garantem que as ideias saiam do papel e ganhem forma. Além do Grupo Paco, que fornece os latões e recolhe o lixo limpo separado, a marca de roupas Surfness e a Aeroarte confeccionaram as camisetas do grupo.
Por enquanto, a entidade não tem sede fixa. As reuniões eventuais acontecem na garagem do prédio de Mariana. A futura jornalista cuida da divulgação e da atualização do blog e Dayana é responsável por toda a parte administrativa.
"O Biotav é nosso trabalho 24 horas por dia. Agora, na nossa vida, isso vem em primeiro lugar", diz Mariana. "Nossas famílias ajudam bastante, a maior força, emocional e financeira, vem deles". Doações de sacos de lixo e de papel reciclado são benvindas para o trabalho da ONG. Para conseguir verbas, as meninas vendem rifas e sabonetes artesanais de glicerina biodegradáveis (feitos por elas).
A partir do segundo semestre, a Biotav deve implantar na escola um curso de reaproveitamento de alimentos em uma cozinha experimental. Também está nos planos da entidade a realização de palestras e capacitação para os catadores de lixo.
Perfil
Nome: Biotav (Terra, Água, Verde) O que faz: promove ações educativas para crianças sobre a preservação do meio ambiente
Endereço: Sem sede própria
Telefone: (13) 3239-7835 ou (013) 88038089
] Site: http://biotav.blogspot.com
